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XXII

Meia-noite



NESSE ponto da prosa a-flor que servia de relogio ao saci abriu-se toda.

— E’ hora! exclamou o saci. Estamos justamente no meio da noite.

Apesar de valente, Pedrinho não deixou de sentir um certo arrepio pelo corpo. Primeira vez na vida em que ia passar uma noite inteira na mata — e não seria uma noite comum, pelo que dizia o saci.

— Não se arreceie de coisa nenhuma. Deixe tudo por minha conta, que nada de mal ha de acontecer, disse o saci, correndo os olhos em redor como em procura de alguma coisa. Venha comigo. Ha ali uma peroba minha conhecida, onde encontraremos o melhor dos refugios.

De fato. Na tal peroba havia um oco a doze pés acima do chão, muito proprio para esconderijo. Dentro dele os dois acomodaram-se á vontade e de modo a tudo poderem ver do que se passasse fora sem perigo de serem vistos.

— Muito bem, disse o menino, mas só quero saber como poderei enxergar qualquer coisa de noite, dentro desta floresta que de dia já é tão escura.

— Para tudo ha remedio, foi a resposta do saci. Espalharei pelas arvores vizinhas centenares de lanternas vivas, de modo que você enxergará como se fosse dia. Mas antes