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NA FORÇA PUBLICA


Declarado liberto, Gama refugiou-se na Força Pública da Província, acolhendo-se à sombra protetora da instituição militar. A sua relativamente longa permanência na milícia, para a qual não tinha a mínima vocação, não se compreenderia senão como o homizio de um homem que acaba de cometer uma grande façanha, em meio hostil, e que teme novas investidas contra a sua independência e autonomia, sempre faceis numa quadra em que a côr da pele decidia dos destinos dos homens.

Gama, ingressando na polícia militar, não lhe levou, como não podia levar-lhe, a sua alma. Era a negação do espírito daquela classe, feita de dedicação e disciplina. Fê-la apenas uma estação de passagem. Seu ideal estava alhures, no veneno que Prado Junior lhe injectara nas veias, ensinando-lhe a leitura e a escrita. A força pública devia ser uma ponte para o seu alvo. E a prova está em que ele, tendo obtido um protetor valiosíssimo, o conselheiro Furtado de Mendonça, delegado de polícia da Capital, não conseguiu fazer carreira, na tropa, apezar de sua inteligência e de sua vivacidade espiritual, quando centenas de moços ativos, com muito menos credenciais que ele, sempre encontraram, na hoje centenária corporação, um