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SUD MENNUCCI

Não é possivel apurar o numero de exemplares da primeira fornada para saber até onde tinha ido o favor do publico, adquirindo o livrinho e determinando, em tão curto prazo, para a sociedade do tempo, a necesidade da segunda fatura. Pode ser que, para tanto, haja concorrido o tom satírico de que a maioria dos trabalhos estava revestida, como pode bem ter acontecido que fossem as alusões e pontas a figurões do tempo, enxertadas nas entrelinhas, e inatingiveis hoje, que houvessem provocado a divulgação do livro. Ou, talvez, houvesse influído o imprevisto da publicação.

Disse Coelho Neto, no Prefacio da 3.ª edição, em 1904, que o verso de Luiz Gama “se não prima pela beleza da forma, se não cintila em lavores de arte, se a rima, por vezes, é pauperrima, é leve como a flecha, silva, vai direito ao alvo, crava-se e fica vibrando”. E José Feliciano [1], recordando a frase, comenta : “Coelho Neto disse bem que os versos de Getulino não são de primeira agua ou correção, sobretudo para quem os lê, depois que o parnasianismo nos habituou a certo apuro de linguagem, a certa metrificação cuidadosa”.

Não era, portanto, o esplendor da roupagem artística o que trouxera o sucesso do livro. O exito talvez fosse determinado por um fato notavel, que devera ter impressionado a sociedade do tempo: a fulgurante inteligência

  1. Artigos no «Estado de São Paulo», sobre «Luiz Gama e as trovas de Getulino», em dezembro de 1930.