Página:Poesias de Maria Adelaide Fernandes Prata offerecidas as senhoras portuenses (1859).pdf/42

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Affagando o rafeiro, que uma parte
No prazer da caçada houve tambem ;
Entre copadas arvores s'escondem
As aves, que cantando se despedem
Do dia, que findou e mais não volta.

Que magestade offrece a natureza,
Onde tudo é saudade e poesia!..
Approxima-se a noule, e já desertos
Os outeiros e bosques se divisam;
Das fadigas do dia descançar,
Nos braços de Morpheu em sonho meigo,
Em breve irão d'aldea os camponezes;
Só eu aguardo a noute solitaria !
Da lua espero a luz branda, e fagueira,
N'abobada celeste a scintillar,
Mil estrellas radiantes amo ver;
Aspirando da brisa o fresco sopro,
Agrada-me da noute a solidão,
E o murmurio ouvir da fonte pura,
D'antiga torre á beira esvoaçarem
Rssas, que piam agoureiras aves;
E na fronte escondida quando a aurora,
As lagrimas verter refrigerantes,
Filtrando o coração, após ás veias,
Este sangue abrasado acalmarão!..
Cançada de velar, então Morpheu,
Repouso me dará nas leves asas!