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Que o seu pobre servidor

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DO SNR. CAPITÃO JOÃO SOARES

Escrever n’um Album!... Credo !
Expor-me á critica austera!
E se um douto me impozera
Pena de longo degredo!
Nada... nada, tenho medo
De ir a alguém desagradar;
Nao ponha o meu nome a par
Dos que tem estro e sciencia;
Amigo, tem paciencia:
Quem não tem não póde dar.


(F. X. de Novaes.)



Que o seu pobre servidor,
Manda Vossa Senhoria,
Empunhando leve pluma,
Seja feito um escriptor!

E, qual Nume antipotente
Que domina os elementos,
Mostre, aqui, do encanto a força
Exhibindo altos talentos!

Nas trevas luctando,
Sem estro, sem guia,
Guindado na prosa.
Sem ter poesia;

Não sei como possa
Tal mando cumprir.
E da brincadeira,
Já quero me rir.

No Album do Vate
Bem quero escrever;
Mas como fazel-o
Sem nada saber?

Metter-m’a abelhudo
Em cousas d’alcance,
Fazer traquinadas,
Soffrer algum trance?

Dizer asneirólas,
Sediças maçadas;
Borrando o papel
Com phrasès safadas?

Curvar-me ás dentadas
De certos pedantes,
Qu’em versos e rithmas
Sam mesmo uns Atlantes?!

Nada, nada, meu Senhor,
Não cahio n’essa esparrella;
Não quero que o mundo diga—
Que o Luiz é tagarella.

   Não tenho sabença,
   Não campo de autor;
   Apenas me conto
   Por um fallador.

   Das linguas extranhas
   Nem-uma aprendi,
   Em nosso idioma
   Sou—Kikiriki.

   De Euclides—os riscos,
   De Schiller—a historia,
   Se os li foi por brinco,
   Não tenho em memoria,

E, demais, alem de tudo,
Da eschola sahi mui rudo.

   Se, por desenfado,
   No meu triste lar,
   Com pennas e tinta
   Me ponho a brincar;

   Se accaso uma ideia,
   Que vaga perdida,
   Da minha cachóla
   Faz sua guarida;

   Se astuto demonio,
   Finorio birbante,

   Soprando na testa
   Me faz, delirante ;

   E si dominado
   Por esse rabbino,
   Algumas sandices
   Escrevo, sem tino,

   Depois reflectindo
   No fófo aranzel,
   Em mil pedacinhos
   Eu faço o papel.

   Por mais que forceje
   Não posso escrever;
   Quem vir este livro
   O que ha de dizer?

   Chamar-me pateta,
   Por grande favor;
   E dar-me patente
   —-De máo palrador.

   Se for litterato
   Farçola, brejeiro,
   Himpando dirá:
   Sempre é sapateiro.

   Mas eu que conheço
   Mesquinho que sou,
   Da minha fachada
   Desfructes não dou.

   Supplico de vós,
   Meu caro senhor,

   Não queiraes o mal
   Do triste cantor,

   —No album do Vate
   De grande saber,
   Um pobre tarello
   Não pode escrever.

Janeiro—1859.
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