Refutação de todas as heresias/I/Prefácio: diferenças entre revisões
m Bot: Adicionando Categoria:Refutação de todas as heresias |
Sem resumo de edição |
||
Linha 2: | Linha 2: | ||
|obra=[[Refutação de todas as heresias]] |
|obra=[[Refutação de todas as heresias]] |
||
|autor=Hipólito de Roma |
|autor=Hipólito de Roma |
||
|seção=O Prefácio – Motivos para |
|seção=O Prefácio – Motivos para levar adiante a obra; exposição dos antigos mistérios; plano de trabalho; integridade da refutação; valor do tratado para futuras gerações |
||
|anterior=[[Refutação de todas as heresias/Livro I|Livro I]] |
|anterior=[[Refutação de todas as heresias/Livro I|Livro I]] |
||
|posterior=[[Refutação de todas as heresias/I/I|I:I]]}} |
|posterior=[[Refutação de todas as heresias/I/I|I:I]]}} |
||
Nós não podemos negligenciar <ref>Um hiato no início dessa passagem é aparente.</ref> |
Nós não podemos negligenciar <ref>Um hiato no início dessa passagem é aparente (ou seja há motivos para acreditar que haja uma parte faltando).</ref> as estórias deixadas pelos assim chamados filósofos entre os gregos. Mesmo suas doutrinas incoerentes devem ser recebidas com algum crédito, de acordo com a loucura incrível dos heréticos; os quais, silenciando-se, e guardando segredos de seus próprios mistérios inefáveis, possam ter sido adoradores de Deus<ref>Uma defesa elaborada dessa posição é o principal tópico do grande trabalho de Cudworth, ''The True Intellectual System of the Universe''.</ref>. Nós também, numa ocasião anterior<ref>Essa afirmação é tida como argumento contra a autoria de Orígenes, em favor de Epifânio, que escreveu um extenso tratado sobre heresias, com resumo.</ref>, já tínhamos exposto as doutrinas resumidamente, não tratando as minúcias, mas refutando numa resenha básica; não considerando requisito revelar suas doutrinas secretas<ref>Isto é, seus mistérios esotéricos, que são só para alguns, contrastando com exotérico, feitos para uma difusão maior.</ref>, a fim de que, quando forem explicadas suas doutrinas enigmáticas, eles podem ficar encabulados, assim, pela divulgação de seus mistérios, possamos convencê-los do ateísmo, podendo assim convencê-los a desistir, em algum grau, de suas opiniões irracionais e suas tentativas profanas<ref>Em alguns manuscritos está escrito: “opinião profana e tentativa irracional”.</ref>. Mas, desde que eu percebi que eles não ficam envergonhados por nossa clemência, e não tinha idéia de como Deus é paciente, ainda que seja blasfemado por eles, para que fiquem envergonhados e se arrependam, ou eles perseverar e serem justamente condenados, eu sou forçado a proceder em minha intenção de expor seus mistérios secretos, os quais, para o iniciado, entregam com muito empenho a aqueles que não estão acostumados, primeiro para revelar (para qualquer um), até, aguardando em suspense durante um período (de preparação necessária), e dirigindo blasfêmias contra o verdadeiro Deus para que eles adquiram completo domínio sobre o iniciado, e perceberam que está impulsivo e ansioso pela prometida revelação. E então, quando forem testados para serem escravizados pelo pecado, eles o iniciem, fazendo com que fique em completa possessão do maligno. Previamente, entretanto, eles os obrigam a fazer um juramento para nunca divulgar (os mistérios), nem para manter comunicações com qualquer pessoa, a não ser que tenha o mesmo jugo, já que a doutrina foi simplesmente entregue (para o outro), não há necessidade de um juramento. Ele também foi obrigado a se submeter à purificação<ref>"Ao aprendizado” (Roeper).</ref> necessária, e assim recebem os mistérios perfeitos desses homens, agindo pr si mesmo, tendo por referência sua própria consciência, sentirá-se suficientemente apto para não divulgar a outros; porque se ele revelar a maldade desta descrição para qualquer homem, ele poderia nem ser mais reconhecido como homem, nem ser levado a crer valiosamente para a luz, sendo que nem mesmo animais irracionais<ref>“E aqueles que são animais irracionais não tentam”, ou “por serem irracionais”, etc. A última palavra é da leitura de Sancroft; no texto, Roeper.</ref> poderiam tentar isso, conforme nós explicaremos no seu devido tópico. |
||
Já que a razão nos compele |
Já que a razão nos compele<ref>“Eleva até” (Roeper).</ref> a nos aprofundar na narrativa, nós concluímos que não devemos ficar silenciosos, mas devemos expor as doutrinas de várias escolas com calma, sem demonstrar reservas. É bom que, mesmo à custa de uma investigação mais detalhada, e não fazer um texto pequeno só por causa do trabalho; porque nós não devemos deixar de expor nenhum desses auxílios fúteis para a vida humana contra o erro, e todos saberão de seus ritos clandestinos e orgias secretas, mantidas sob seus auspícios apenas para os iniciados. Mas ninguém pode refutá-los, senão o Espírito Santo, legado à Igreja, recebido inicialmente pelos Apóstolos, que transmitiram àqueles que acreditam piamente. Nós, sendo seus sucessores, e como participantes de Sua graça, sacerdotes, e tendo o ofício de ensinar<ref>Essa passagem é citada para aqueles que impugnam a autoria de Orígenes, já que ele nunca foi bispo da igreja. Entretanto, não é certo que se refira exclusivamente ao cargo episcopal.</ref>, assim também reputados como os guardiões da Igreja, nós não devemos ser desleixados na vigilância<ref>A leitura comum está no futuro, mas a flexão no presente é adotada por Richter, em ''Critical Observations'', p. 77.</ref> ou estar dispostos a suprimir a doutrina cristã<ref> Deve ser “qualquer opinião que seja própria do assunto”. Esta é da versão latina de Cruice. Uma leitura diferente é “nós não devemos silenciar em relação às boas razões” ou “em relação a distinções racionais” ou “deter a fala através do instrumento do raciocínio”. Esta última é de Roeper.</ref>. Nem mesmo, trabalhando com cada energia do corpo e da alma, nós nos cansamos na nossa tentativa de louvar adequadamente ao nosso Divino Benfeitor com um retorno digno; e ainda que nós não O louvemos de uma maneira adequada, nós não seremos descuidados, nós não nos descuidaremos em fazer o dever que nos foi entregue, nem revelar da má vontade o que o Espírito Santo nos fornece<ref>Outra leitura é “nos ajunta” (no sentido de ajuntar sabedoria).</ref>, não apenas trazendo-as à luz, por meio de nossa refutação, problemas alheios (ao nosso tempo), mas também qualquer assunto que a Verdade recebeu pela graça do Pai<ref>Ou “do Espírito”.</ref>, ministrou aos homens. Estes também, ilustrando com argumentos e fornecendo testemunhos<ref>Ou “indicando uma testemunha” ou “tendo testemunho comprovado”.</ref> por cartas, devemos proclamar de cabeça erguida. |
||
Assim, como já dissemos, nós provaremos que eles são ateístas, tanto em suas opiniões quanto em seu método (de tratar uma questão), e de fato, (a fim de mostrar) de onde vieram suas teorias, e como eles se esforçaram para estabelecer suas doutrinas, não utilizando as Escrituras – nem para reivindicar suceder qualquer santo para qualificar suas opiniões – mas que suas doutrinas derivaram<ref>Ou “ponto inicial”.</ref> da sabedoria dos gregos, daqueles que tinham formado sistemas de filosofia, de supostos mistérios, de vagarias de astrólogos – parece então, aconselhável, em primeira instância, explicar as opiniões dos filósofos gregos, para tornar claro aos nossos leitores que tais coisas são muito mais antigas do que essas (heresias modernas), e pro referência, reverenciando as suas visões da divindade; depois, comparar cada heresia com o sistema de cada especulador, assim para mostrar como os primeiros campeões das heresias, aproveitando-se das teorias antigas, já que se tornou vantajoso<ref>Ou “devotando sua atenção” ou “tendo se iluminado”.</ref>, para eles, piorando a situação com mais heresias. A incumbência admitida é trabalhosa, requerendo pesquisa extensa. Nós não devemos, entretanto, ser relaxados na obra; porque logo após haverá alegria, como um atleta que obteve com muito esforço conquista a coroa, ou um mercador viajando pelo mar ganhando dinheiro, ou um marido que goza dos frutos com o suor no rosto, ou um profeta que após provações e insultos vê suas profecias se tornando realidade. Assim, a princípio, devemos declarar quem foi o primeiro entre os gregos a desenvolver (os princípios) da filosofia natural. Já que os heréticos de hoje tomam suas heresias<ref>Os principais escritores sobre as primeiras heresias são Irineu do 2º século; Hipólito, seu aluno, do 3º; Filastro, Epifânio e Santo Agostinho do 4º século. Os ensinados mal precisam ser lembrados pelo digesto compreensivo fornecido por Ittigius, no prefácio de sua dissertação sobre as heresias nos períodos apostólicos e pós-apostólicos. Um livro dirigido ao leitor geral é ''Inquiry into the Heresies of the Apostolic Age'', do dr. Burton.</ref> dos antigos, e estas foram passadas de um para outro, devemos provar comparando um com os outros. Examinando a cada um estes que tomaram a liderança entre os filósofos com suas doutrinas peculiares, nós devemos expor publicamente esses heresiarcas. |
|||
==Notas== |
==Notas== |
||
Linha 16: | Linha 16: | ||
[[Categoria:Refutação de todas as heresias]] |
[[Categoria:Refutação de todas as heresias]] |
||
[[en:Ante-Nicene Fathers/Volume V/Hippolytus/The Refutation of All Heresies/Book I/Part 2]] |
Revisão das 19h56min de 9 de agosto de 2008
Nós não podemos negligenciar [1] as estórias deixadas pelos assim chamados filósofos entre os gregos. Mesmo suas doutrinas incoerentes devem ser recebidas com algum crédito, de acordo com a loucura incrível dos heréticos; os quais, silenciando-se, e guardando segredos de seus próprios mistérios inefáveis, possam ter sido adoradores de Deus[2]. Nós também, numa ocasião anterior[3], já tínhamos exposto as doutrinas resumidamente, não tratando as minúcias, mas refutando numa resenha básica; não considerando requisito revelar suas doutrinas secretas[4], a fim de que, quando forem explicadas suas doutrinas enigmáticas, eles podem ficar encabulados, assim, pela divulgação de seus mistérios, possamos convencê-los do ateísmo, podendo assim convencê-los a desistir, em algum grau, de suas opiniões irracionais e suas tentativas profanas[5]. Mas, desde que eu percebi que eles não ficam envergonhados por nossa clemência, e não tinha idéia de como Deus é paciente, ainda que seja blasfemado por eles, para que fiquem envergonhados e se arrependam, ou eles perseverar e serem justamente condenados, eu sou forçado a proceder em minha intenção de expor seus mistérios secretos, os quais, para o iniciado, entregam com muito empenho a aqueles que não estão acostumados, primeiro para revelar (para qualquer um), até, aguardando em suspense durante um período (de preparação necessária), e dirigindo blasfêmias contra o verdadeiro Deus para que eles adquiram completo domínio sobre o iniciado, e perceberam que está impulsivo e ansioso pela prometida revelação. E então, quando forem testados para serem escravizados pelo pecado, eles o iniciem, fazendo com que fique em completa possessão do maligno. Previamente, entretanto, eles os obrigam a fazer um juramento para nunca divulgar (os mistérios), nem para manter comunicações com qualquer pessoa, a não ser que tenha o mesmo jugo, já que a doutrina foi simplesmente entregue (para o outro), não há necessidade de um juramento. Ele também foi obrigado a se submeter à purificação[6] necessária, e assim recebem os mistérios perfeitos desses homens, agindo pr si mesmo, tendo por referência sua própria consciência, sentirá-se suficientemente apto para não divulgar a outros; porque se ele revelar a maldade desta descrição para qualquer homem, ele poderia nem ser mais reconhecido como homem, nem ser levado a crer valiosamente para a luz, sendo que nem mesmo animais irracionais[7] poderiam tentar isso, conforme nós explicaremos no seu devido tópico.
Já que a razão nos compele[8] a nos aprofundar na narrativa, nós concluímos que não devemos ficar silenciosos, mas devemos expor as doutrinas de várias escolas com calma, sem demonstrar reservas. É bom que, mesmo à custa de uma investigação mais detalhada, e não fazer um texto pequeno só por causa do trabalho; porque nós não devemos deixar de expor nenhum desses auxílios fúteis para a vida humana contra o erro, e todos saberão de seus ritos clandestinos e orgias secretas, mantidas sob seus auspícios apenas para os iniciados. Mas ninguém pode refutá-los, senão o Espírito Santo, legado à Igreja, recebido inicialmente pelos Apóstolos, que transmitiram àqueles que acreditam piamente. Nós, sendo seus sucessores, e como participantes de Sua graça, sacerdotes, e tendo o ofício de ensinar[9], assim também reputados como os guardiões da Igreja, nós não devemos ser desleixados na vigilância[10] ou estar dispostos a suprimir a doutrina cristã[11]. Nem mesmo, trabalhando com cada energia do corpo e da alma, nós nos cansamos na nossa tentativa de louvar adequadamente ao nosso Divino Benfeitor com um retorno digno; e ainda que nós não O louvemos de uma maneira adequada, nós não seremos descuidados, nós não nos descuidaremos em fazer o dever que nos foi entregue, nem revelar da má vontade o que o Espírito Santo nos fornece[12], não apenas trazendo-as à luz, por meio de nossa refutação, problemas alheios (ao nosso tempo), mas também qualquer assunto que a Verdade recebeu pela graça do Pai[13], ministrou aos homens. Estes também, ilustrando com argumentos e fornecendo testemunhos[14] por cartas, devemos proclamar de cabeça erguida.
Assim, como já dissemos, nós provaremos que eles são ateístas, tanto em suas opiniões quanto em seu método (de tratar uma questão), e de fato, (a fim de mostrar) de onde vieram suas teorias, e como eles se esforçaram para estabelecer suas doutrinas, não utilizando as Escrituras – nem para reivindicar suceder qualquer santo para qualificar suas opiniões – mas que suas doutrinas derivaram[15] da sabedoria dos gregos, daqueles que tinham formado sistemas de filosofia, de supostos mistérios, de vagarias de astrólogos – parece então, aconselhável, em primeira instância, explicar as opiniões dos filósofos gregos, para tornar claro aos nossos leitores que tais coisas são muito mais antigas do que essas (heresias modernas), e pro referência, reverenciando as suas visões da divindade; depois, comparar cada heresia com o sistema de cada especulador, assim para mostrar como os primeiros campeões das heresias, aproveitando-se das teorias antigas, já que se tornou vantajoso[16], para eles, piorando a situação com mais heresias. A incumbência admitida é trabalhosa, requerendo pesquisa extensa. Nós não devemos, entretanto, ser relaxados na obra; porque logo após haverá alegria, como um atleta que obteve com muito esforço conquista a coroa, ou um mercador viajando pelo mar ganhando dinheiro, ou um marido que goza dos frutos com o suor no rosto, ou um profeta que após provações e insultos vê suas profecias se tornando realidade. Assim, a princípio, devemos declarar quem foi o primeiro entre os gregos a desenvolver (os princípios) da filosofia natural. Já que os heréticos de hoje tomam suas heresias[17] dos antigos, e estas foram passadas de um para outro, devemos provar comparando um com os outros. Examinando a cada um estes que tomaram a liderança entre os filósofos com suas doutrinas peculiares, nós devemos expor publicamente esses heresiarcas.
Notas
- ↑ Um hiato no início dessa passagem é aparente (ou seja há motivos para acreditar que haja uma parte faltando).
- ↑ Uma defesa elaborada dessa posição é o principal tópico do grande trabalho de Cudworth, The True Intellectual System of the Universe.
- ↑ Essa afirmação é tida como argumento contra a autoria de Orígenes, em favor de Epifânio, que escreveu um extenso tratado sobre heresias, com resumo.
- ↑ Isto é, seus mistérios esotéricos, que são só para alguns, contrastando com exotérico, feitos para uma difusão maior.
- ↑ Em alguns manuscritos está escrito: “opinião profana e tentativa irracional”.
- ↑ "Ao aprendizado” (Roeper).
- ↑ “E aqueles que são animais irracionais não tentam”, ou “por serem irracionais”, etc. A última palavra é da leitura de Sancroft; no texto, Roeper.
- ↑ “Eleva até” (Roeper).
- ↑ Essa passagem é citada para aqueles que impugnam a autoria de Orígenes, já que ele nunca foi bispo da igreja. Entretanto, não é certo que se refira exclusivamente ao cargo episcopal.
- ↑ A leitura comum está no futuro, mas a flexão no presente é adotada por Richter, em Critical Observations, p. 77.
- ↑ Deve ser “qualquer opinião que seja própria do assunto”. Esta é da versão latina de Cruice. Uma leitura diferente é “nós não devemos silenciar em relação às boas razões” ou “em relação a distinções racionais” ou “deter a fala através do instrumento do raciocínio”. Esta última é de Roeper.
- ↑ Outra leitura é “nos ajunta” (no sentido de ajuntar sabedoria).
- ↑ Ou “do Espírito”.
- ↑ Ou “indicando uma testemunha” ou “tendo testemunho comprovado”.
- ↑ Ou “ponto inicial”.
- ↑ Ou “devotando sua atenção” ou “tendo se iluminado”.
- ↑ Os principais escritores sobre as primeiras heresias são Irineu do 2º século; Hipólito, seu aluno, do 3º; Filastro, Epifânio e Santo Agostinho do 4º século. Os ensinados mal precisam ser lembrados pelo digesto compreensivo fornecido por Ittigius, no prefácio de sua dissertação sobre as heresias nos períodos apostólicos e pós-apostólicos. Um livro dirigido ao leitor geral é Inquiry into the Heresies of the Apostolic Age, do dr. Burton.