Narizinho agarrou-a e enfiou-a no bolso, dizendo:
— E' demais. Parece que os ares deste campo desarranjaram a cabeça della duma vez.
VI — A FORMIGA COROCA
A cigarra estava cantando num galho secco, perto dum formigueiro. Ao approximar-se da arvore o senhor de Lafontaine parou.
— Gosto do canto das cigarras, disse elle. Dá-me a idéa de bom tempo, sol quente, verão. Este insecto é um pouco bohemio, como em geral todos os cantores.
— Ha muitas cigarras e enormes no sitio de vóvó, disse Pedrinho. A's vezes cantam até rebentar.
— Morrem cantando, como os cysnes, continuou o sabio. Já escrevi uma fabula sobre a cigarra e a formiga, que é outro insecto muito curioso, symbolo do trabalho. Veja-mol-as, e abaixou-se, rodeado dos meninos, para observar o formigueiro.
— Não param nunca, proseguiu elle, sempre occupadas nos trabalhos caseiros. Cortam folhas, picam-nas em pedacinhos e guardam-nos em perfeitos celleiros, para que fermentem. Nessas folhas um cogumelozinho se desenvolve, com o qual se alimentam. São insectos de alta intelligencia. A muitos respeitos a formiga está mais adeantada que nós, homens. Ha mais ordem e governo na sociedade das formigas do que na sociedade humana. São mais felizes.
— Felizes? exclamou Emilia com carinha incredula. Bem se vê que o senhor nunca sentiu o horrivel cheiro da bebida que dona Benta dá para ellas beberem lá no sitio, uma tal formicida...
O fabulista riu-se com vontade e, voltando-se para Narizinho, disse que a boneca tinha uma "estranha e viva personalidade". A menina não entendeu muito bem, mas começou dalli por deante a olhar Emilia com mais respeito. Se