É mania!
Ora quer, porque quer, o meu amigo,
O perluxo e dengonso Zé Maria,
Que eu mil versos troveje, retumbantes,
N’um album que possue, só por mania !
Não vê nem pensa
O caro amigo,
Que a musa esquiva
Não toma abrigo,
No teso craneo
De um máu tarélo,
Que por miolos
Só tem farelo!
Bem sei que a estupidez, de enormes patas
Qual Icaro pateta aos ares vôa,
Mas sem tino, perdida entre as espheras,
N'altas nuvens tropeça e cahe a tòa.
Assim capengas
Qualificados,
Vam rabiscando
Enthusiasmados,
Gotosos versos,
Com rheomatismo;
Que bichas pedem,
E sinapismo.
Porém o que fazer em taes apuros,
Se o amigo reclama versalhada ?
— Traçar sobre o papel com mão singela,
O retrato da Bella, sua amada.
Potentes versos
Requer o caso,
Do grande Homero
Torquato ou Naso!
Silencio, ó Vates,
Que eu vibro a lyra!
— Cyprina treme,
E amor suspira !
Tem rosto amelloado— é pão de broa,
Nariz de funil velho acachapado,
Por sobr'olhos altivas ribanceiras,
Pescoço de cegonha esgravinhado.
Limosos dentes,
De còr incerta,
A bocca torta,
Que mal se aperta;
Pendidos beiços,
Abringelados,
Onde o—Cazuza
Poem seus cuidados.
O corpo é um tonel empanzinado,
Por pés tem duas lanchas ou saveiros,
Por braços mastaréos sem cordoalhas,
Por tetas dous terríveis travesseiros,
Tem barbatanas,
Como baleia,
Carão, emfim,
De lua-cheia;
Renga de um quarto,
A gambia esguia,
—Eis por quem morre
O Zé Maria !
Náo cores, meu amigo, do retrato,
Pois que a Nympha é prendada—tem dinheiro;
E' filha de um Barão—homem de peso,
Que do teu velho pae foi cosinheiro.
Cerra os ouvidos
Aos que murmuram,
Parvos, beocios,
Que a raça apuram,
Empolga a chelpa
Faz-te bizarro,
Dá na pobreza
Um forte esbarro.