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CLAUDIO MANOEL DA COSTA

Que de seus raios o Planeta louro,
Enriquecendo o influxo em tuas vêas,
Quanto em chamas fecunda, brota em ouro.


III


Pastores, que levais ao monte o gado,
Vêde la como andais por essa serra;
Que para dar contagio a toda a terra,
Basta ver-se o meu rosto magoado:

Eu ando (vós me vedes) tão pezado;
É a Pastora infiel, que me faz guerra,
E’ a mesma, que em seu semblante encerra
A causa de um martirio tão cansado.

Se a quereis conhecer, vinde commigo,
Vereis a formozura, que eu adoro;
Mas não; tanto não sou vosso inimigo:

Deixai, não a vejais; eu volo imploro;
Que se seguir quizerdes o que eu sigo,
Chorareis, ó Pastores, o que eu choro.


IV


Sou Pastor; não te nego; os meus montados
São esses, que ahi vês; vivo contente
Ao trazer entre a relva florescente
A doce companhia dos meus gados;

Alli me ouvem os troncos namorados,
Em que se transformou a antiga gente;
Qualquer delles o seu estrago sente ;
Como eu sinto tambem os meus cuidados.

Vós, ó troncos (lhes digo), que algum dia
Firmes vos contemplastes, e seguros
Nos braços de uma bella companhia;

Consolai-vos comigo, ó troncos duros;