Página:Ana de Castro Osório - Ás Mulheres Portuguêsas (1905).pdf/62

Wikisource, a biblioteca livre
60
ÁS MULHERES PORTUGUÊSAS

zer, a felicidade egoista de quem não tem um nobre ideal a orientar-lhe a senda da vida.

É pois criminosa a mulher, e muito, mas criminosa como a criança que inconscientemente empurrasse para o abysmo o seu proprio irmão.

Responsavel é só o homem, que, cheio de orgulho, não procura na mulher uma companheira, uma igual, mas uma inferior, embora finja endeusá-la para a conservar na rotina e no servilismo. Tira-lhe a instrução e a sciencia, como alimentos improprios para estomagos delicados, e deixa-lhe o sonho e a fantasia, que as tortura na ânsia louca de encontrar na vida real o imprevisto de sensações romanescas, que seduz principalmente os ignorantes.

Culpado é só o homem que afastou a mulher proba e culta de todas as luctas em que o destino de ambos se jogam, pois que a politica é, ou deve ser, a arte de bem dirigir uma nação, e a nação pertence tanto ao homem como á mulher para se deixar governar por intrigantes quasi sempre deshonestas, as mais das vezes inconscientes instrumentos doutros ambiciosos.