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ÁS MULHERES PORTUGUÊSAS
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Afastaram a mulher das altas preocupações do espirito, puzeram-lhe ao pensamento e á vontade uma barreira de preconceitos e de ignorancia, e queixam-se porque ella usa das armas que tem e gosa o fructo do orgulho masculino !

Indignam-se contra as mulheres e são os proprios homens cultos que transigem com ellas, nas suas crenças e prejuisos; elles, os que não têm pejo de dizer publicamente que — embora se sintam libertados, embora os seus espiritos pairem alto numa atmosfera de saber e de certeza que os orgulha — consentem que as esposas continuem a crêr o que elles descrêm, a vêr o que elles não vêem, a seguir o que elles não seguem, porque querem ser tolerantes!

Não comprehendem, ou não querem comprehender, o que é peor, que a mulher representa mais do que o homem na constituição da familia, porque é a ella que pertence o filho nos seus primeiros annos, porque á mãe está confiada a filha até passar para as mãos do marido. E quantas vezes o homem, num ingenuo sorriso de criança, encontra os laços que no futuro lhe hão de manietar o espirito, ou, em