Era no tempo alegre quando entraua,
No roubador de Europa a luz Febea,
Quando hum, & o outro corno lhe aquentaua
E Flora derramaua o de Amalthea:
A memoria do dia renouaua,
O preſuroſo Sol, que o Ceo rodea.
Em que aquelle, a quem tudo eſtà ſogeito,
O ſello pos a quanto tinha feito.
Quando chegaua a frota aaquella parte,
Onde o Reino Melinde ja ſe via,
De toldos adornada, & leda de arte
Que bem moſtra eſtimar o Sancto dia:
Treme a Bandeira, voa o Eſtandarte,
A cor porpurea ao longe aparecia.
Soão os atambores & pandeiros,
E aſsi entrauão ledos & guerreiros.
Enche ſe toda a praya Molindana,
Da gente que vem ver a leda armada,
Gente mais verdadeira, & mais humana
Que toda a doutra terra atras deixada.
Surge diante a frota Luſitana,
Pega no findo a ancora peſada.
Mandão fora hum dos Mouros q̃ tomàrão,
Por quem ſua vinda ao Rei manifeſtàrão.
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