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E não menos co tempo ſe pareçe,
O deſejo de ouuirte o que contares,
Que quem ha, que por fama não conheçe
As obras Portugueſas ſingulares:
Não tanto deſuiado reſplandeçe,
De nos o claro Sol, pera julgares.
Que os Melindanos tem tam rudo peito,
Que não eſtimem muito hum grande feito.

Cometerão ſoberbos os Gigantes,
Com guerra vão, o olimpo claro, & puro,
Tentou Peritho, & Theſeu, de ignorantes,
O Reino de Plutão horrendo & eſcuro,
Se ouue feitos no mundo tam poſſantes,
Não menos he trabalho illuſtre, & duro,
Quanto foi cometer Inferno, & Ceo,
Que outrem cometa a furia de Nereo.

Queimou o ſagrado templo de Diana,
Do ſutil Teſifonio fabricado,
Horoſtrato, por ſer da gente humana
Conhecido no mundo, & nomeado:
Se tambem com tais obras nos engana,
O deſejo de hum nome auentajado.
Mais razão ha que queira eterna gloria
Quem faz obras tam dignas de memoria.

Fim.