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Eſtauas linda Ines poſta em ſoſego
De teus annos, colhendo doçe fructo,
Naquelle engano da alma, ledo & cego,
Que a fortuna não deixa durar muito,
Nos ſaudoſos campos do Mondego,
De teus fermoſos olhos nunca enxuto,
Aos montes inſinando, & âs eruinhas
O nome que no peito eſcripto tinhas.

Do teu Principe ali te reſpondião,
As lembranças que na alma lhe morauão,
Que ſempre ante ſeus olhos te trazião,
Quando dos teus fermoſos ſe apartauão
De noite em doçes ſonhos, que mentião,
De dia em penſamentos que voauão.
E quanto em fim cuidaua, & quanto via,
Eram tudo memorias de alegria.

De outras bellas ſenhoras, & Princeſas,
Os deſejados tâlamos engeita,
Que tudo em fim, tu puro amor desprezas,
Quando hum gesto ſuaue te ſogeita:
Vendo estas namoradas eſtranhezas,
O velho pay ſeſudo, que reſpeita
O murmurar do pouo, & a fantaſia
Do filho, que caſarſe não queria.