Página:Camões Os Lusíadas Page157 79r.jpg

Wikisource, a biblioteca livre


O maldito o primeiro que no mundo
Nas ondas vella pôs en ſeco lenho,
Dino da eterna pena do profundo
Se he juſta a juſta ley que ſigo & tenho:
Nunca juyzo algum alto & profundo,
Nem cythara ſonora, ou viuo engenho,
Te dê por iſſo fama, nem memoria,
Mas comtigo ſe acabe o nome & gloria.

Trouxe o filho de Iapeto do Ceo
O fogo que ajuntou ao peito humano,
Fogo que o mundo em armas accendeo
Em mortes, em deſonras (grande engano)
Quanto milhor nos fora Prometeo,
E quanto pera o mundo menos dano,
Que a tua eſtatua Illuſtre não tiuera
Fogo de altos deſejos, que a mouera.

Não cometera o moço miſerando
O carro alto do pay, nem o âr vazio
O grande Achitector co filho, dando
Hum, nome ao mar, & o outro, fama ao rio:
Nenhum cometimento alto & nefando
Por fogo, ferro, agoa, calma & frio,
Deixa intentado a humana geração:
Miſera ſorte, eſtranha Condição!


FIM.