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Mas deſpois que as estrellas o chamarem,
Socederâs ô forte Mozcarenhas,
E ſe injustos o mando te tomarem,
Prometote que fama eterna tenhas:
Pera teus inimigos confeſſarem
Teu valor alto, o fado quer que venhas
A mandar, mais de palmas coroado,
Que de fortuna juſta acompanhado.

No reino de Bintão, que tantos danos
Terâ a Malaca muito tempo feitos,
Num ſo dia as injurias de mil anos
Vingarâs, co valor de illuſtres peitos,
Trabalhos & perigos inhumanos,
Abrolhos ferreos mil, paſſos estreitos,
Tranqueiras, Baluartes, lanças, Setas,
Tudo fico que rompas & ſometas.

Mas na India cubiça & ambição,
Que claramente poem aberto o rosto
Contra Deos, & Iustiça, te farão
Vituperio nenhum, mas ſo deſgoſto:
Quem faz injuria vil, & ſem rezão
Com forças & poder, em que estâ poſto,
Não vence, que a vitoria verdadeira,
He ſaber ter juſtiça nua, & inteira.