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culpia em as retinas, em o concavo das mãos, em o cerebro as mutações radiosas, multiplas, que se succediam n´essa essencia immutavel; desatavam-lhe em o ouvido as inflexões varias da voz de sua amante: ora formada de sons longinquos, alheios a ella, discordantes da luz e da vida, elaborados em trevas uniformes, ora um cantico acceso de paixão farfalhante. Parecia-lhe mesmo que o proprio corpo de Ladice emmagrecera; as linhas curvas eram menos curvas e a sua flexuosidade meio rija; em as suas pupillas errantes elle lia a ancia para um repouso, um horizonte, uma permanencia...

Theophilo era mordido, picado, azoinado, por curiosidades, avidezas, torturas, indiziveis, atenazantes, agudas, sevas...

Em a hora da despedida, quando Ladice o premeu contra si coroando-lhe a cabeça magnifica com o seu beijo e a sua intensidade, sem se poder explicar um mal estar terrivel inopinado lhe amiudou os baques do coração: era uma agonia total em todo o ser...— “Meu Deus! como um facto simples, uma nudez moça, envolta em gaze violeta, pode transtornar, evocar soffrimentos sobre-humanos... Ah! mulher unica, quanta palpitação, quanta arte, quantas potencias grandiosas tens n´esse corpo fragil e deslumbrante...” E com o olhar e o espirito abrangeu a figura esbelta, adorada de sua amante que ia passo a passo como se já houvesse sobre os hombros a sombra pesada da morte insidiosa...

Ladice era prêsa do encantamento voluptuoso, da