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magia seductora da morte; pelos seus nervos perpassavam sopros de febricidades, de ardentias lyricas; ella gravava em as cellulas as apparencias, os contornos das cousas sensíveis e brutas: — Ah! não morrerei de todo — pensava ella. — As estrellas, a agua, o sol burilaram em a face, o meu perfil, as minhas mãos... Serei a sua legenda da Terra... Natureza, ether, tendes o azul de minha imaginação e do meu mysticismo em os teus filetes invisiveis... Lua calida, sustedes, em o teu livor, a minha nostalgia lunatica d´elle... Perfume de corollas, hora do meio-dia, guardai a tempestade, o alarido do meu eu, impaciente d´elle... Tarde de hoje, tudo o que me olha e vê, consolai-o, levai-lhe o que roubastes de mim, sella-lhe a boca, as sensações com este beijo que é mesma...— Unindo os labios, ella soltou em o espaço um beijo impregnado d'ella, do seu ardôr.

A desordem intemperada de todas as exaltações, do que vivifica, anima, extasia, diviniza, arrebata, o segredo do goso, o sabbat festivo do triumpho lhe latejavam em as veias, apossavam-se-lhe da vontade ardente para a chegada a essa estancia suprêma, surdidora de origens e porvires grandiosos. As formas, os objectos, se lhe reverberavam em as percepções, mais esclarecidos, mais nitidos, com detalhes e invisibilidades nunca d´antes percebidas, em saliencias evidentes. Parecia-lhe que tudo se achava mais proximo, mais perto, como se houvesse o instincto, o faro da sua destruição immediata.

Ladice lhes notava certa clemencia, certa meiguice, uma quasi ternura humana, á guisa de quem