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mão, disse em seu intimo. — Bebo ao adeus á vida gloriosa, ao universo, á minha exaltação. E Ladice hesitou. — Tambem á finalidade do meu Thêo adorado... — Ajunetou, humectando as palmas da mão e os pulsos d´essa bebida alegre e solemne.

Dirigindo-se a Francisco; —Acceita a gratidão de um coraçãozinho infeliz.—E molhou os labios pela terceira vez.

Em olhando o marido, a sua consciencia se conservava branca, luminosa, sem arestas e exprobações. Perante elle, a sociedade, o Dever, ella se julgava resgatada... Dera-lhe a virgindade, a innocencia, motivos de orgulho e satisfacção, fruições de intelligencia e esthetismo... Embora nos arcanos de seu senso, refugasse essas apparencias fallaciosas, nullas; mentiras decisivas, lealdades falsas, hypocrisias com ademanes de virtude... Francisco lhe havia possuido o corpo totalmente vazio d´ella. A sua verdadeira virgindade, as explosões de seus espasmos, o estranho de sua imaginação morbida, os venenos de seu extase, a sua sede total, forte, ella offertara, entregára a Theophilo, como eclosões intangíveis, frutos lidimos da Pureza.

Pela sua mente passava então qual espectro tornado á vida, devolvido do tumulo, do esquecimento, ella mesma branca e fina, envolta em seus longos cabellos irrequietos, de joelhos a pedir a Deus a morte em a vespera de seus enponsaes... Depois, convulsa, em pranto amargo, mulher sem ser mulher... Ah! não; ella apenas tinha piedade, enternecia-se ante o affecto, a bondade, a admiração que Francisco