Página:Exaltação (1916).pdf/344

Wikisource, a biblioteca livre
— 336 —

“Meu Thêo.

A tua figurinha byzantina se vai immobilizar... Entra para a eternidade envolta em gaze, em setim, em perfumes como a dadiva organica da Vida, da Natureda, á Terra faminta, á Terra escura, fria, gelida...

Uma picada no braço e a tua Ladice já não será mais, ao receberes estas paginas que são ella, as sua boca, os seus cabellos, o seu corpo estreito e pallido, as suas invasões formidaveis, a sua agonia rubente de ti, o seu desejo que tem a profundez, as propulsões, os desdobramentos infinitos das raizes e das frondes... Thêo! o meu amôr me não deixa viver... Eu sou a Avena de Pan a se quebrar em a desordem bulhenta dos rythmos... Eu sou o riso dos horizontes desfeito pelo Aquilão agreste... Levo em as cellulas a resonancia, a altivez, o alarido majestoso, a imprecação ousada, as invenções infernaes, a permanencia fiel, a submissão ebria, selvatica do mais desvairado e ethico dos amores...

Quando granizares sobre o meu corpo tuberosas, lirios e escabiosas, quando a tua mao se extender sobre mim em signal de desespero... lá, no fundo e sob o lagedo, os meus atomos a se torcerem te dirão “Eu te amo...” Nas horas de desespero, em a solidão, quando segurares a fronte demente de mim, da minha ardencia, terás sobre os hombros o desatino de minha cabeça, dos meus cabellos apaixonados de ti... Quando na tua ancia em busca de rimas para a exal-