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tação do meu ser, a sombra livida do meu espasmo baixará sobre o teu perfil como um halo amoroso!... Quando a saudade te fizer soluçar, quando os teus traços se desviarem na convulsão da dôr, serei, Thêo, meu adorado, aos teus pés a viuva da Volupia, que te sagra com a violencia uniforme, inabalavel da Immortalidade... Quando á tarde, procurares o teu estro, os membros escorregadios da tua Musa, ouvirá o tropel sedicioso do meu impeto estagnado em ti... Thêo, quando vires a tormenta fustigar o arvoredo, açoitar o espaço, baralhar a ramaria, dize: é a alma d´Ella que passa, inconsolavel de mim...

Quando o sol arder, quando o aroma dos jardins te estontear, quando o dia fôr como um coração de crystal, dize Thêo meu, é o hymno do meu Amôr ao meu amôr...

Não te esqueças dos nossos gestos, quando a sós, da minha curiosidade em te abrindo a boca na illusão leda de vêr o teu coraçãozinho, esse coração que trago constantemente preso aos dentes como o sim concreto do nosso ardor; lembra-te sempre quando te recusava o beijo, a caricia até a exasperação, para depois irromper sobre ti qual ondazinha desenfreada, solta e turbulenta... Recorda do meu desvario, em parando deante de ti, a dizer: Thêo, eu sou o grito do teu extase, das sinuosidades do meu corpo sob a tua pupilla fixa, das contracções do meu pézinho na tua mão, emocionada... Thêo, não chores, a morte é um nihilismo creador; é a efflorescencia de nossas complexidades a se desagregarem, a se isolarem, a se internarem em outros sêres para fortificar, engrandecer