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MEMORIAS DE UM NEGRO

nal iniciei a propaganda do estabelecimento projectado. Viajava numa charrette puxada por um burro, comia e dormia em casa de gente simples, visitava fazendas, escolas, igrejas, e, como de ordinario me apresentava inesperadamente, surprehendia a vida real do povo, sem disfarces.

Nos districtos agricolas as habitações tinham apenas um quarto de dormir onde se accommodava toda a familia, não raro alguns parentes afastados e até pessoas que não tinham com ella nenhuma ligação. Para mudar a roupa ou deixar que os outros se deitassem, muitas vezes tive necessidade de sahir. Preparavam-me a cama no chão, ou davam-me lugar numa cama já occupada. Impossivel fazer a toilette dentro de casa. Para isso a gente ia ao pateo, onde em geral se encontrava o necessario.

A alimentação compunha-se de toucinho e pão de milho. E em certas mesas vi apenas pão de milho e ervilhas cozidas com agua. Essas coisas vinham do mercado e eram caras, mas ninguem se lembrava de obter outra comida. Podiam cultivar bons legumes na terra excellente, mas só se interessavam pelo algodão, que plantavam em todos os lugares.

Em moradas de pobres encontrei machinas de costura de sessenta dollars e relogios de doze a quatorze dollars, tudo comprado a prestações. Du-