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BOOKER T. WASHINGTON

rante um jantar achei-me em horrivel atrapalhação vendo um garfo para cinco pessoas. Entretanto havia junto da mesa um harmonium de sessenta dollars, comprado a prestações, naturalmente. Ora vejam. Um garfo e um harmonium de sessenta dollars. O peor é que as machinas de costura não serviam para nada, o harmonium enfeitava a sala e os relogios ficavam parados, porque ninguem sabia coser, ler as horas nem tocar.

Em uma dessas casas percebi que era por minha causa que a familia, quebrando os seus habitos, se sentava á mesa. Ordinariamente não se sentava. Pela manhã, ao levantar-se, a mulher punha um pedaço de carne na caçarola e farinha no tacho, levava esses utensilios ao fogo, e dez minutos depois o almoço estava prompto. O homem tomava o pão e a carne e sahia comendo, emquanto marchava para o campo; a mulher servia-se num prato, algumas vezes na caçarola ou no tacho; os meninos alimentavam-se correndo no jardim. Em algumas quadras do anno a carne se tornava rara e então era um luxo inattingivel ás crianças que não tinham força para trabalhar na lavoura.

Depois do almoço a familia geralmente abandonava a casa e dirigia-se ao algodoal, onde todos os individuos capazes de pegar numa enxada trabalhavam. Deitava-se o bebé no chão (pois quasi sempre havia um bebé), debaixo dum algodoeiro, e