Página:A Viuva Simões.djvu/178

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minha filha morre! E com tal dor disse aquilo que a policia deixou-a passar, através da noite, sozinha na sua angústia!

A chuva caía do céu enegrecido; as casas estavam fechadas e mudas, as ruas solitárias; os lampiões de gás pareciam tochas fúnebres, acesas de longe em longe e os passos da viúva Simões soavam no meio daquilo tudo de uma maneira irregular, nervosa, triste.

Chegou quase morta à rua do Riachuelo; encostou-se à parede dum prédio, tateou a campainha elétrica e vibrou-a sem interrupção até que lhe abriram a porta. Era a casa de Luciano; o criado reconheceu-a logo e não pôde conter um murmúrio de espanto.

- A senhora aqui!... a estas horas! balbuciou ele.

Ernestina não respondeu; galgou os degraus e seguiu esbarrando nos móveis e nas paredes até perto do quarto de Luciano, para onde gritou com toda a sua alma, num último esforço:

- Luciano! Luciano! Matei minha filha! Salve minha filha!

Ernestina não pôde suster-se por mais tempo em pé. A vista escureceu-se-lhe, os joelhos vergaram-se-lhe e ela caiu desmaiada.

Quando Luciano entrou na sala ela ainda estava estendida no chão.

O criado iluminava a cena, com os olhos espantados. Vendo o amo, perguntou indeciso: