Página:A Viuva Simões.djvu/22

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olhar chamejante e o lábio inferior apertado entre os dentes

- A resposta? perguntou por fim o criado.

- Manda entrar.

- É extraordinário! murmurou a viúva Simões; nunca mais pensei nele... hoje penso... e ele chega!

Aquela coincidência afigurava-se, ao seu espírito mal educado, como que um aviso sobrenatural. Já nem se recordava de que a sua memória fora despertada pela notícia da Gazeta!

Luciano! Sim. Era ele quem se anunciava! Que vinha fazer à sua casa, após dezenove anos de ausência e de completa indiferença? Que saudades vinha revolver ou que idílios acordar?

Ao mesmo tempo que estes pensamentos se atropelavam no seu espírito, ela, por um movimento em que entrava tanto de coquetterie como de nervosismo, ergueu-se, apoiou a mão no espaldar baixo de um fauteuil, impelindo com o pé, para o lado, a longa cauda do seu vestido de viúva. Houve um silêncio; o coração bateu-lhe com força. Soaram passos pelo corredor encerado, esses passos foram abalados na alcatifa da saleta contígua, onde a voz do Augusto indicou:

- Tenha a bondade de passar a outra sala...

Ela voltou-se com um sorriso desbotado e viu destacar-se, no fundo bronzeado do reposteiro,