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A cidade e as serras
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— Ja não mora... Abalou esta manhã, para outra terra, com outra porca!

Para outra terra! com outra porca!... Vasio, negramente vasio de todo o pensar, de todo o sentir, de todo o querer — boiei aos tombos, como um tonel vasio, na corrente açodada do Boulevard, até que encalhei n’um banco da Praça da Magdalena, onde tapei com as mãos, a que não sentia a febre, os olhos a que não sentia o pranto! Tarde, muito tarde, quando já se cerravam com estrondo as cortinas de ferro das lojas, surdiu, d’entre todas estas confusas ruinas do meu ser, a eterna sobrevivente de todas as ruinas — a ideia de jantar. Penetrei no Durand, com os passos entorpecidos d’um resuscitado. E, n’uma recordação que m’escaldava a alma, encommendei a lagosta, o pato, o Borgonha! Mas ao alargar o collarinho, ensopado pelo ardor d’aquella tarde de Julho, entre a poeira da Magdalena, pensei com desconfôrto: — «Santissimo Nome de Deus! Que immensa sêde me fez esta desgraça!...» De manso acenei ao moço: — «Antes do Borgonha, uma garrafa de Champagne, com muito gêlo, e um grande copo!...» Creio que aquelle Champagne se engarrafára no Ceu onde corre perennemente a fresca fonte da Consolação, e que na garrafa bemdita que me coube penetrára, antes d’arrolhada,