Página:A cidade e as serras (1901).pdf/142

Wikisource, a biblioteca livre
128
A cidade e as serras

regeladas que se estendem, e beiços sumidos que agradecem o dom magnanimo d’um sou — para que os Ephrains tenham dez milhões no Banco de França, se aqueçam á chamma rica da lenha aromatica, e surtam de collares de saphiras as suas concubinas, netas dos Duques d’Athenas. E um povo chora de fome, e da fome dos seus pequeninos — para que os Jacinthos, em janeiro, debiquem, bocejando, sobre pratos de Saxe, morangos gelados em Champagne e avivados d’um fio d’ether!

— E eu comi dos teus morangos, Jacintho! Miseraveis, tu e eu!

Elle murmurou, desolado:

— É horrivel, comemos d’esses morangos... E talvez por uma illusão!

Pensativamente deixou a borda do terraço, como se a presença da Cidade, estendida na planicie, fosse escandalosa. E caminhamos devagar, sob a molleza cinzenta da tarde, philosophando — considerando que para esta iniquidade não havia cura humana, trazida pelo esforço humano. Ah, os Ephrains, os Trèves, os vorazes e sombrios tubarões do mar humano, só abandonarão ou affrouxarão a exploração das Plebes, se uma influencia celeste, por milagre novo, mais alto que os milagres velhos, lhes converter as almas!