Página:A cidade e as serras (1901).pdf/187

Wikisource, a biblioteca livre
A cidade e as serras
173

organisava a remessa de fornalhas, geleiras, bocaes de trufas, latas de conservas, bojudas garrafas de aguas mineraes. Jacintho, lembrando as trovoadas da serra, comprou um immenso pára-raios. Desde o amanhecer, nos pateos, no jardim, se martellava, se pregava, com vasto fragor, como na construcção d’uma cidade. E o desfilar das bagagens, através do portão, lembrava uma pagina de Herodoto contando a marcha dos Persas.

Das janellas, Jacintho com o braço estendido, saboreava aquella actividade e aquella disciplina:

— Vê tu, Zé Fernandes, que facilidade!... Sahimos do 202, chegamos á serra, encontramos o 202. Não ha senão Paris!

Recomeçára a amar a Cidade, o meu Principe, emquanto preparava o seu Exodo. Depois de ter, toda a manhã, apressado os encaixotadores, descortinado confortos novos para o abandonado solar, telephonado gordas listas de encommendas a cada loja de Paris — era com delicia que se vestia, se perfumava, se floria, se enterrava na vittoria ou saltava para a almofada do phaeton, e corria ao Bosque, e saudava a barba talmudica do Ephraim, e os bandós furiosamente negros da Verghane, e o Psychologo de fiacre, e a