Página:A cidade e as serras (1901).pdf/201

Wikisource, a biblioteca livre
A cidade e as serras
187

da chuva clamorosa, furava a negrura, na esperança de avistar as luzes de Medina e um comboio paciente fumegando... Depois recahia no divan, limpava os bigodes e os olhos, maldizia a Hespanha. O trem arquejava, rompendo o vasto vento da planura desolada. E a cada apito era um alvoroço. Medina?... Não! Algum sumido apeadeiro, onde o trem se atardava, esfalfado, resfolgando, emquanto dormentes figuras encarapuçadas, embrulhadas em mantas, rondavam sob o telheiro do barracão, que as lanternas baças tornavam mais soturno. Jacintho esmurrava o joelho: — «Mas por que pára este infame comboio? Não ha trafico, não ha gente! Oh esta Hespanha!...» A sineta badalava, moribunda. De novo fendiamos a noite e a borrasca.

Resignadamente comecei a percorrer um Jornal do Commercio, antigo, trazido de Paris. Jacintho esmagava o espesso tapete do salão com passadas rancorosas, rosnando como uma fera. E ainda assim se escoou, ás gottas, uma hora cheia de eternidade. — Um silvo, outro silvo!... Luzes mais fortes, longe, palpitaram na neblina. As rodas trilharam, com rijos solavancos, os encontros de carris. Emfim, Medina!... Um muro sujo de barracão alvejou — e bruscamente, á portinhola aberta com violencia, apparece um cavalheiro barbudo,