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A cidade e as serras

fardeta, um bonet, que murmuravam baixinho com immensa doçura:

— V. exc.as não têem nada a declarar?... Não ha malinhas de mão?...

Era a minha terra! Murmurei baixinho com immensa ternura:

— Não temos aqui nada... Pergunte v. exc.a pelo Grillo... Ahi atraz, n’um compartimento... Elle tem as chaves, tem tudo... É o Grillo.

A fardeta desappareceu, sem rumor, como sombra benefica. E eu readormeci com o pensamento em Guiães, onde a tia Vicencia, atarefada, de lenço branco cruzado no peito, de certo já preparava o leitão.

Acordei envolto n’um largo e doce silencio. Era uma Estação muito socegada, muito varrida, com rosinhas brancas trepando pelas paredes — e outras rosas em moitas, n’um jardim, onde um tanquesinho abafado de limos dormia sob duas mimosas em flôr que rescendiam. Um moço pallido, de paletot côr de mel, vergando a bengalinha contra o chão, contemplava pensativamente o comboio. Agachada rente á grade da horta, uma velha, diante da sua cesta de ovos, contava moedas de cobre no regaço. Sobre o telhado seccavam aboboras. Por cima rebrilhava o profundo,