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A cidade e as serras

remoto dia d’entremez em que elle tanto soffrera no sociavel e policiado bosque de Montmorency. Ah, mas agora, com que segurança e idyllico amor elle se movia através d’essa Natureza, d’onde andára tantos annos desviado por theoria e por habito! Já não arreceiava a humidade mortal das relvas; nem repellia como impertinente o roçar das ramagens; nem o silencio dos altos o inquietava como um despovoamento do Universo. Era com delicias, com um consolado sentimento de estabilidade recuperada, que enterrava os grossos sapatos nas terras molles, como no seu elemento natural e paterno: sem razão, deixava os trilhos faceis, para se embrenhar através de arbustos emaranhados, e receber na face a caricia das folhas tenras; sobre os outeiros, parava, immovel, retendo os meus gestos e quasi o meu halito, para se embeber de silencio e de paz: e duas vezes o surprehendi attento e sorrindo á beira d’um regatinho palreiro, como se lhe escutasse a confidencia...

Depois philosophava, sem descontinuar, com o enthusiasmo d’um convertido, avido de converter:

— Como a intelligencia aqui se liberta, hein? E como tudo é animado d’uma vida