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A cidade e as serras

— Bem! conclui. Então, como se trata d’ossadas vagas, sem nome, sem data, convem uma ceremoniasinha muito simples, muito sobria.

— Quietinha, quietinha! murmurou o Silverio, dando um forte sorvo assobiado ao café.

E foi quietinha, d’uma rustica e doce singeleza, a ceremonia d’aquelles altos senhores. Cedo, por uma manhã, levemente enevoada, os oito caixões pequeninos, cobertos d’um velludo vermelho mais de festa que de funeral, com molhos de rosas espalhados, contendo cada um o seu montesinho d’ossos incertos, sahiram aos hombros dos coveiros de Tormes e dos moços da quinta, da Egreja de S. José, cujo sino leve tangia, na enevoada doçura da manhã, — quanto fina e levemente! — como pia um passarinho triste. Adiante, um airoso moço de sobrepelis, erguia com zelo a velha cruz prateada; abrigando o pescoço sob um immenso lenço de rapé, de quadrados azues, o velho e corcovado sacristão segurava pensativamente a caldeirinha d’agoa benta; e o bom abbade de S. José, com os dedos entre o breviario fechado, movia os labios, n’uma lenta, murmurosa resa, que ia, pelo doce ar, espalhando mais doçura. Logo atraz do ultimo cofre, o mais pequenino, o da caveirinha pequena, Jacintho caminhava; e eu,