Página:A cidade e as serras (1901).pdf/321

Wikisource, a biblioteca livre
A cidade e as serras
307

sempre. As creanças a quem elle distribuia tostões, farejavam de longe a sua passagem, — e era em torno d’elle um escuro formigueiro de caritas trigueiras e sujas, com grandes olhos arregalados, que se ainda tinham pasmo, já não tinham medo. Como o cavallo de Jacintho uma tarde se chapára, ao desembocar da alameda, n’umas grossas pedras que ahi deformavam a estrada, logo ao outro dia um bando d’homens, sem que Jacintho o ordenasse, veio por dedicação ensaibrar e alisar aquelle pedaço perigoso de caminho, aterrados com o risco que correra o bom senhor. Já pela serra se espalhava esse nome de «bom senhor». Os mais edosos da freguezia não o encontravam sem exclamarem, uns com gravidade, outros com grandes risos desdentados: — Este é o nosso bemfeitor! Por vezes, alguma velha corria do fundo do eido, ou vinha á porta do casebre, ao avistal-o no caminho, para gritar, com grandes gestos dos braços magros: «Ai que Deus o cubra de bençãos! Que Deus o cubra de bençãos!»

Aos domingos, o padre José Maria, (bom amigo meu e grande caçador) vinha de Sandofim, na sua egoa ruça, a Tormes, para celebrar a missa na Capellinha. Jacintho assistia ao officio na sua tribuna, como os Jacinthos d’outras eras, para que aquelles simples o não