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A cidade e as serras

— Vê ahi o telegrapho!... Ao pé do divan. Uma tira de papel que deve estar a correr.

E, com effeito, d’uma redôma de vidro posta n’uma columna, e contendo um apparelho esperto e diligente, escorria para o tapete, como uma tenia, a longa tira de papel com caracteres impressos, que eu, homem das serras, apanhei, maravilhado. A linha, traçada em azul, annunciava ao meu amigo Jacintho que a fragata russa Azoff entrára em Marselha com avaria!

Já elle abandonára o telephone. Desejei saber, inquieto, se o prejudicava directamente aquella avaria da Azoff.

— Da Azoff?... A avaria? A mim?... Não! É uma noticia.

Depois, consultando um relogio monumental que, ao fundo da Bibliotheca, marcava a hora de todas as Capitaes e o curso de todos os Planetas:

— Eu preciso escrever uma carta, seis linhas... Tu esperas, não, Zé Fernandes? Tens ahi os jornaes de Paris, da noite; e os de Londres, d’esta manhã. As Illustrações além, n’aquella pasta de couro com ferragens.

Mas eu preferi inventariar o gabinete, que dava á minha profanidade serrana todos os gostos d’uma iniciação. Aos lados da cadeira de Jacintho pendiam gordos tubos acusticos,