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A cidade e as serras

e revoltos terrores como só os produz a ferocidade dos Elementos. Já tarde, á pressa (jantavamos com Marizac no Club para o acompanhar depois ao Lohengrin na Opera) Jacintho arrocheava o nó da gravata branca — quando no lavatorio, ou porque se rompesse o tubo, ou se dessoldasse a torneira, o jacto d’agua a ferver rebentou furiosamente, fumegando e silvando. Uma nevoa densa de vapor quente abafou as luzes — e, perdidos n’ella, sentiamos, por entre os gritos do escudeiro e do Grillo, o jorro devastador batendo os muros, esparrinhando uma chuva que escaldava. Sob os pés o tapete ensopado era uma lama ardente. E como se todas as forças da natureza, submettidas ao serviço de Jacintho, se agitassem, animadas por aquella rebellião da agua — ouvimos roncos surdos no interior das paredes, e pelos fios dos lumes electricos sulcaram faiscas ameaçadoras! Eu fugira para o corredor, onde se alargava a nevoa grossa. Por todo o 202 ia um tumulto de desastre. Diante do portão, attrahidas pela fumarada que se escapava das janellas, estacionava policia, uma multidão. E na escada esbarrei com um reporter, de chapéo para a nuca, a carteira aberta, gritando sofregamente «se havia mortos?»

Domada a agua, clareada a bruma, vim