— Então?
— A peor, aquella de que eu havia chegado já a desesperar, era a que lhe tinha descoberto logo na sua chegada aqui, uma doença moral; revelava-se por uma maneira de vêr as coisas, de pensar e de proceder verdadeiramente doentia.
— Estou curado d’isso.
— Estará? eu sei!... É certo que já é bom signal admittir que era doença.
— Dou pelo seu diagnostico, prima, e até pelo tratamento que me aconselhou em tempo; falou-me na vida campestre, no interesse pelos negocios locaes... e sobretudo em uma paixão sincera.
— Ah! e experimentou a receita?
— Experimentei e curei-me.
— Ou tomou por fôrças de saude o que era apenas o falso vigor da convalescença? Convem não abusar; ouço dizer aos medicos que são perigosas as recaidas.
— Pois teme que eu recaia?
— Por que não? Esta sua vinda aos Cannaviaes a horas mortas... comquanto motivada por louvaveis intenções... tem ainda assim uma certa feição romantica... que era bom vigiar... Sempre vim para acudir a algum accidente.
— É um perfeito medico da época; não tem fé na efficacia dos remedios que prescreve.
— Tenho; mas não desacompanho a acção d’elles, isso não. Agora fale-me com franqueza: ao recordar-se de certas ideias com que veio de Lisboa não se lhe figuram algumas extranhas e inacceitaveis já?
— Confesso que algumas...
— E comprehende agora o que eu lhe dizia? o remedio para o mal do coração que o minava, tinha-o a seu lado, desde o primeiro dia em que puzera os pés no Mosteiro, e teimava em ser cego para o não vêr.
— Desde o primeiro dia? Pois Christina...