Página:Alfarrabios.djvu/38

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o punho embaixo da página, alcançava-lhe o tope com os bicos da pena encravada nos três dedos, que a apertavam como os cientes de uma tenaz de aço. Encolhendo-se à medida que desciam as regras tia escrita, a tal mão de tarracha só levantava-se da banca para virar a folha com um piparote, enxumbrado da saliva, que o dedo mínimo furtava à boca, mas com a rapidez de um tiro de bodoque. Nestas ocasiões o beiço em constante sinalefa, desabrochava da cesura, graciosamente estofado, como a fava de um chichá.

Era este o dono do cartório, Sebastião Ferreira Freire, tabelião do público, judicial e notas, da cidade de São Sebastião, morador qualificado não só pela importância do cargo, como pelos mais predicados de sua pessoa.

Tudo ali revestia-se do aspecto poento e venerando daquele alfarrábio vivo, encadernado em pergaminho humano. As teias de aranha desciam do teto, formando pelas estantes festões e requififes, com recamos e debuxos de alto bolor. O tinteiro de chumbo, com bocal de vasta dimensão, já desaparecia por baixo do espesso coscorão da borra, que entornando pelo rebordo, lhe mudava a forma chata em funil, onde entrava o tubo da pena até ao meio. Cada penada destas era a