Página:As Minas de Prata (Volume V).djvu/88

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noite antecedente tomara das mãos do pai, e entregou-o ao mancebo.

Estácio leu corando de vergonha; terminando, a donzela referiu-lhe em poucas e acres palavras a cena passada na véspera entre ela e o alferes.

— A vida e a liberdade de vosso pai, senhora, por este papel e o segredo profundo do que ele encerra!

— Guardai-o e Deus vos recompense.

— A promessa que vos faço não se pode realizar já; depende ela do governador, em nome de quem procedo; mas empenho-vos minha palavra.

— Ela me basta! disse a judia com nobreza.

Estácio ficou pensativo, relendo lentamente o papel que tinha diante dos olhos:

— Muito amigo sois desse homem, cavalheiro?

— Ele? exclamou Estácio. Vota-me ódio profundo.

— Bem me parecia que entre vós e ele só ódio pode existir. Mas então por que exigis que se cale sua infâmia?

— É irmão da mulher que eu amo!

— D. Inês?...

— Compreendeis-me?... Todo o segredo!...