Página:As Minas de Prata (Volume VI).djvu/19

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estava embebida da água do rio, e amassando-a apresentava uma bola:

— A mesma areia assim unida, qual guerreiro forte é capaz de movê-la com seu hálito?

Então cravando o olhar feroz no povo admirado exclamava:

— Ide, filhos degenerados. Tupã vos abandona. Sereis dispersos, como a areia seca do rio, pelo sopro do trovão inimigo!

Lançada essa imprecação, o velho pajé sumia-se nas entranhas da terra, e penetrava em seu antro.

A tribo afastava-se triste e remordida por aquela ameaça; após ela vinha outra, e outras; mas a união da grande raça era impossível, para que ela sofresse a pena de culpa originária, segundo rezavam as antigas tradições.

Correram as luas.

Um dia viu Abaré aproximar-se do rochedo um guerreiro, coberto com as vestes e as armas da raça, a que votava ódio entranhado; sua alma sedenta expandiu-se, porque a dor, que nela vivia, ia ser aplacada com sangue inimigo. Correu-lhe pelos beiços um sorriso que afiou os colmilhos