Página:As Minas de Prata (Volume VI).djvu/235

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meu! A Igreja me roubou para si o esposo que me deu!... Eu me resignarei à desventura; porém ao menos o consolo de ver-vos, de vir alguma vez depositar a vossos pés neste confessionário, não meus pecados, pois outro não tenho senão o de amar-vos; mas as minhas tristezas e aflições. Que vos custa isto? Podeis ser fiel à vossa nova esposa, sem condenar a primeira ao martírio e ao desespero!...

Não foram estas as únicas lamentações que exalou a alma da desventurada, cheia a transbordar dos sofrimentos de tantos anos. Quando a palavra estancou no lábio seco e árido da formosa dama, as lágrimas rebentaram dos olhos. Opressa, ofegante, ela apoiou a fronte ao confessionário para não cair no pavimento.

O padre, que a ouvira todo o tempo taciturno e recolto, acurvou então o elevado talhe, e deixando cair na alma da mísera algumas palavras surdas, desapareceu:

— Vosso esposo, mísera!... Só no céu!...

Em princípio esmagada por esta cruel palavra, a dama ergueu-se com esforço sobre os joelhos, e pôs no altar uns olhos ardentes:

— Deus meu!... Ele assim o quer.