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LXIII

Quem o blasfeme, afronte, ou quem o chame
A ser-lhe testemunha quando mente,
Nunca se ouve entre nós com fúria infame
E só de o imaginar se assombra a gente.
Raro quem o adore ou quem o ame;
Mas mais raro será quem, insolente,
Tenha do sumo Ser tão cega incúria
Que trate o nome seu com tanta injúria.

LXIV

De externo culto a Deus há pouco indício;
Se não é no que estimas bruto engano
De fazermos cruento sacrifício,
Não do sangue brutal, porém do humano.
Vejo à luz da razão que é feio vício
Que ao instinto repugna por tirano;
Mas matar quem nos mais o crime atiça
Não é vitima digna da justiça?

LXV

Justiça do céu reconhecemos
Contra quem delinqüente a profanasse;
Pondo suplícios contra os maus extremos,
E em justo sacrifício a pena dá-se.
O malfeitor, o réu, quando o prendemos,
Com sacro rito a cerimônia faz-se;
Que quem no sangue ímpio a Deus vindica,
Este o aplaca somente e sacrifica.