Página:Caramuru 1781.djvu/21

Wikisource, a biblioteca livre


XVIII

Que horror da humanidade! ver tragada
Da própria espécie a carne já corrupta!
Quando não deve a Europa abençoada
A fé do Redentor, que humilde escuta?
Não era aquela infâmia praticada
Só dessa gente miseranda e bruta:
Roma e Cartago o sabe no noturno,
Horrível sacrifício de Saturno.

XIX

Os sete, entanto, que do mar com vida
Chegaram a tocar na infame areia,
Pasmam de ver na turba recrescida,
A brutal catadura, hórrida e feia;
A cor vermelha em si mostram tingida
De outra cor diferente, que os afeia;
Pedras e paus de embirras enfiados,
Que na face e nariz trazem furados.

XX

Na boca, em carne humana ensangüentada,
Anda o beiço inferior todo caído,
Porque a têm toda em roda esburacada,
E o labro de vis pedras embutido;
Os dentes (que é beleza que lhe agrada)
Um sobre outro desponta recrescido;
Nem se lhe vê nascer na barba o pêlo,
Chata a cara e nariz, rijo o cabelo.