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LXIX

De junho a outubro para o mar se alarga,
Qual gigante marítimo, a baleia,
Que palmos vinte seis conta de larga,
Setenta de comprido, horrenda e feia;
Oprime as águas com a horrível carga,
E de oleosa gordura em roda cheia,
Convida o pescador que ao mar se deite,
Por fazer, derretendo-a, útil azeite.

LXX

Tem por espinhas ossos desmarcados,
O ferro as duras peles representam,
Donde pendem mil buzios apegados,
Que de quanto lhe chupam se sustentam;
Não parecem da fronte separados
Os vastos corpos que na areia assentam.
Entre os olhos medonhos se ergue a tromba,
Que ondas vomita como aquátil bomba.

LXXI

Na boca horrível, como vasta gruta,
Doze palmos comprida a língua pende.
Sem dentes, mas da boca imensa e bruta
Barbatanas quarenta ao longo estende.
Com elas para o estomago transmuta
Quanto por alimento nágua prende,
O peixe ou talvez carne, e do elemento
A fez imunda, que lhe dá sustento.