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LXXII

Duas asas nos ombros tem por braços,
Que aos lados vinte palmos se difundem,
Com asa e cauda os líquidos espaços
Batendo remam, quando o mar confundem;
E excitando no pélago fracassos,
Chorros de água nas naus de longe infundem.
E, andando o monstro sobre o mar boiante,
Crê que é ilha o inexperto navegante.

LXXIII

Brilha o materno amor no monstro horrendo,
Que, vendo prevenida a gente armada,
Matar se deixa nágua combatendo,
Por dar fuga, morrendo, à prole amada.
Onde no filho o arpão caçam metendo,
Com que atraindo a mãe dentro à enseada
Desde a longa canoa se alenceia,
Ao lado de seus filho a baleia.

LXXIV

Sobre a costa o marisco apetecido
No arrecife se colhe e nas ribeiras,
As lagostas, e o polvo retorcido,
Os lagostins, santolas, sapateiras,
Ostras famosas, camarão crescido,
Caranguejos também de mil maneiras,
Por entre os mangues, donde o tino perde
A humana vista em labirinto verde."