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XXXVI

Tu lhe mudaste em ferro a carne branda,
Tu fazes que na mão se acenda e lhe arda
A viva chama que Tupá nos manda,
Tupá, que rege o céu, que o mundo guarda.
Com ele hei de vencer por qualquer banda,
Com ele em campo armado, já me tarda
O cobarde inimigo, que a encontrá-lo
Vivo, vivo me animo a devorá-lo.

XXXVII

Sabeis, tapuias meus, como morrendo
Nossos irmãos e pais, que eles matavam,
Postos debaixo já o golpe horrendo,
Vosso nome a os vingar tristes chamavam;
Também vistes na guerra combatendo
Que estrago neles estas mãos causavam;
E as vezes que vos dei no campo vasto
Mil e mil deles por sab'roso pasto.

XXXVIII

Mas não come o estrangeiro, nem consente
Comer-se carne humana; e só teria
Outra carne qualquer por inocente,
Aves, feras, tatus, paca ou cotia.
Receba, pois, de nós grato presente
De quanto houver nos matos da Bahia:
Saia-se à caça; e, como lhe compete,
Prepare-se a hospedagem de um banquete."