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LX

Qual o velho Noé na imensa barca,
Que a bárbara cabana em tudo imita,
Ferozes animais próvido embarca,
Onde a turba brutal tranqüila habita,
Tal o rude tapuia na grande arca;
Ali dorme, ali come, ali medita,
Ali se faz humano e, de amor mole,
Alimenta a mulher e afaga a prole.

LXI

Dentro da grã-choupana a cada passo
Pende de lenho a lenho a rede extensa;
Ali descanso toma o corpo lasso,
Ali se esconde a marital licença.
Repousa a filha no materno abraço
Em rede especial que tem suspensa,
Nenhum se vê (que é raro) em tal vivenda
Que a mulher de outrem nem que a filha ofenda.

LXII

Ali chegando a esposa fecundada
A termo já feliz, nunca se omite
De pôr na rede o pai a prole amada,
Onde o amigo e parente o felicite;
E, como se a mulher sofrera nada,
Tudo ao pai reclinado então se admite,
Qual fora tendo sido em modo sério
Seu próprio, e não das mães, o puerpério.