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LI

Faz que se abram do céu, que água encerra,
A catadupas, como imensos rios,
E, que a face inundando-se da terra,
Se afoguem bons e maus, justos e ímpios.
Os elementos em desfeita guerra
Confundem-se em medonhos desafios;
Cai um mar desde o céu, e na mesma hora
Manda a terra do centro outro mar fora.

LII

Já rota a margem, que nas brancas praias
Às ondas posto tinha o grão-sob'rano,
Passam as águas das extremas raias
Onde se ajunta com o monte o plano;
O peixe nadador, nas altas faias,
No ninho esta do alígero tucano;
E em seios as baleias ver puderas,
Covis dos tigres e antros de panteras.

LIII

Iam entanto os homens miserandos
De um monte a outro por fugir das águas,
E seu destino algum bandos e bandos
Correndo gritam com piedosas; magoas,
E os cegos deprecam, que os escutem brandos;
Mas a ira de Tupá com justas frágoas
Fulminando centelhas e coriscos,
Faz maiores os danos do que os riscos.