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CARTAS DE INGLATERRA

Lá, nos primeiros dias, tinha o hotel pago por Sua Alteza — ao fim do mez emprego dado por Sua Alteza. Qualquer cousa: se era um velho tenor de sala, já sem voz, nomeava-se coronel de cavallaria; se era um militar desacreditado, despachava-se inspector das escolas. Quem não podia alcançar uma carta para o Khediva, ia rojar-se aos pés do consul. Quem não ousava apresentar-se ao consul, empregava as influencias transversaes do paço, as mais poderosas — os eunucos, os cosinheiros, as dançarinas... O emprego vinha, facil e pingue. E o fellah pagava toda a malta.

Mas o peior ainda eram os funccionarios superiores, que as potencias installavam no interior da administração egypcia — tão ciumentas umas das outras, que, se, por exemplo, a França conseguia accommodar um francez na directoria geral das finanças, logo a Inglaterra, para contrabalançar essa parcella de influencia, empurrava um inglez para dentro do estado-maior da marinha; e por seu turno a Italia, já desconfiada, mettia á força um filhote de Roma na direcção da instrucção publica. Alguns d’estes cavalheiros tinham de certo habilidades de especialistas; mas a sua abundancia mesmo enredava o movimento da machina administrativa. Está hoje provado que o Khediva, cedendo a estas pressões, era obrigado a ter seis empregados para fazer o simples trabalho de um!