Página:Cartas de Inglaterra (Eça de Queirós, 1905).djvu/63

Wikisource, a biblioteca livre
48
CARTAS DE INGLATERRA

ramo symbolico do mistletoe, o ramo do amor domestico: e ai das senhoras que um momento pararem sob a sua ramagem! Quem assim as surprehender tem direito a beija-las n’um grande abraço! Tambem, que voltas sabias, que estrategia complicada, para evitar o ramo fatidico! Mas, pobres anjos! ou se enganam ou se assustam, e a cada momento é sob o mistletoe um grito, um beijo, dois braços que prendem uma cinta fugitiva...

E o piano não se cala n’estas noites! É alguma velha canção ingleza, em que se falla de torneios e cavalleiros, ou uma dança da Escossia, que se baila com o gentil ceremonial do passado.

E por corredores e salas, as creanças, os bébés, com os cabellos ao vento, vestidos de branco e côr de rosa, correm, cantam, riem, vão a cada momento espreitar os ponteiros do relogio monumental, porque á meia-noite chega Santo Claus, o veneravel Santo Claus, que tem trez mil annos de edade e um coração de pomba, e que já a essa hora vem caminhando pela neve da estrada, rindo com os seus velhos botões, apoiado ao seu cajado, e com os alforges cheios de bonecos. Amavel Santo Claus! por um tempo tão frio, n’aquella edade, deixar a cabana de algodão que elle habita no paiz da Legenda, e vir por sobre ondas do mar e ramagens de florestas trazer a estes bébés o seu Natal!