Página:Eu (Augusto dos Anjos, 1912).djvu/90

Wikisource, a biblioteca livre

Versos de Amor

A um poeta eròtico

 

Parece muito doce aquella canna.
Descásco-a, provo-a, chupo-a... Illusão trêda!
O amor, poeta, é como a canna azêda,
A toda a bocca que o não prova engana.

Quiz saber que era o amor, por experiencia,
E hoje que, emfim, conheço o seu conteúdo,
Pudéra eu ter, eu que idolátro o estudo,
Todas as sciencias menos esta sciencia!

Certo, este o amor não é que, em ancias, amo
Mas certo, o egoista amor este é que acinte
Amas, opposto a mim. Por conseguinte
Chamas amor aquillo que eu não chamo.

Opposto ideal ao meu ideal conservas.
Diverso é, pois, o ponto outro de vista
Consoante o qual, observo o amor, do egoista
Modo de ver, consoante o qual, o observas.